Tuesday, May 27, 2008

Compreendo como quase inútil é a companhia do estar só. Tão inútil quanto não estar só e ser refém da solidão de outrem. Por isso adormeço no começo daquela frase.
E em todos os dias de hoje, vivo muito e vivo pouco. Procuro assim lembrar-me da vida, como um gesto único de quem dá e recebe.
Como um tirano, mato o tempo e fujo da realidade; roubo o que se tem de valor e, o que não se tem, cria-se para que não seja em vão a própria natureza das coisas.
Além de tudo, como se tudo tivesse além, busco não me contrariar com o que vejo, pois o que sinto sequer se importa, e os olhos, que podem de fato cegar, como lâmina usada e acostumada com cortes e fragmentos, não sabem mais interpretar o sentido que dou pras coisas. Que vejam, que enxerguem. Qualquer coisa é perda, pois tudo já acabou, e isso é só questão tempo.
Caso não queiram ver isso também, apenas usem os olhos para acordar, o tempo há muito acabou.
E isso que cheira a vida é resto de poema, que soa tão belo porque estão em pedaços, palavras que se tropeçam enquanto tentam juntas chegar a algum lugar. A noção prática do coletivo, que somente quem se insere se lamenta, mas que se fossem um só, seria possivelmente eu mesmo, um. E só. Na periferia do contento, olhando tudo sem qualquer presença. Melhor esta ausência sem significado, ou continuar na experiência da decadência a quê todos chamam de...

KATE POLLADSKY


“Pesa-me, realmente me pesa, como uma condenação a conhecer, esta noção repentina da minha individualidade verdadeira, dessa que andou sempre viajando sonolentamente entre o que sente e o que vê”. Fernando Pessoa

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