Friday, November 28, 2008

É muito fácil me prender.
Dá me espaço pra dançar entre o teu amor e o meu.
Deixa-me livre para ir e vir ao teu corpo
Abraça-me por trás, quando eu não conseguir te encarar de frente.
E me beija para sempre, quando eu ameaçar fugir.
Deforme as condições, ignore as confusões, desfaça-se dos por quês.
Prenda-me mesmo, é mais fácil do que me entender.




Kate Polladsky

Thursday, November 27, 2008

Se o meu sangue fosse pele,
Tocaria o meu alimento e me mataria por envenenamento.
Sufocaria a rubra forma do meu corpo com teu abraço.
E sobraria apenas a minha alma.
Saudável e fresca. Livre do toque.
Virgem e virtuosa.
Infeliz por faltar-lhe veias.


Kate Polladsky


BANQUETE


Te como com os
olhos
Fruta que se
pendura no
meu nariz
Te beijo como
esquimó
Bebo o suco e
mordo a
carne
Que esconde a
semente
Feito
fruta-do-conde
Então toco a
pele
Que se suja de
terra
quando cai
Bem aqui aos meus
pés
Te piso como a
uva
E escorre teu
líquido
Mais tarde, te
ponho a
mesa
Como o melhor
vinho
Brindo e me
embebedo
Caio anestesiada,
em
êxtase
Descanso do teu
banquete
Mas não recolho
dos meus
olhos os talheres
Para não deixar de
te
comer.


KP



Wednesday, November 26, 2008


Imaginam que vão encontrar no amigo, companhia.
No sexo, satisfação. No amor, o vazio preenchido.
Imagine que terceirizam tudo, que a felicidade vem dos outros.
Imagino que assim encontra-se solidão, insatisfação e vazio.
O completo parte daqui de dentro, do que sou.
E dos outros espero apenas por mim mesma.
[Kate Polladsky]
É ridículo.
Escrevo teu nome em qualquer pedaço de papel rasgado.
Minha caligrafia se cansa de você.
Mas meus dedos dançam em volta de cada letra que se forma, até a última quando morre.
E embora quando termine pareça estar no plural, não há coisa mais única.
Por mais comum que seja.Eu estou tentando te esquecer.
Dei-lhe apelidos pra me desapegar do verdadeiro.
Mas a verdade é ainda mais ridícula.
Não posso dar nome ao que sinto, que não o teu próprio nome.





Kate Polladsky

Tuesday, November 25, 2008

Vide verso, onde eu te escondo, te amo, te tiro de linha. Eu quero você na minha vida, porque poemas, poemas... Já os vivi demais. Aceite o meu poder de não saber fazer nada a respeito. E com todo o respeito, faço parte de você. Ah, e sei que faço muito bem. Mas também, sou tão metida. Penso em você já te beijando. E penso em você o tempo todo, fica a dica. Acha que me conhece e acho que te coleciono. Se te faltar uma peça, me peça. Mas peça educadamente, sem grosseria. Pode até mandar, mas demando. Não digo, mas quero. Quero muito isso que estou pensando. Adivinhe. Faça alguma coisa por mim. Ou por mim, pode ficar-se faltando. Eu faria falta de mim, se fosse você. E sim! Sim! Queria ser você para saber se sou curiosa ou louca. Quanto a minha curiosidade, seria possível te gostar loucamente? [Eu gosto. Logo, sou possível. Então me tenha!]. Quanto a minha loucura, seria possível não te gostar ao menos por curiosidade? [Não te gosto por curiosidade. Curiosamente sou louca por ti, ao menos.] Vide vício de você. Onde me trato. Sem resultados. Só o descontrole de te ver com os olhos míopes do meu coração. Um ser anostálgico. Sem lembranças. Um ser asequelado. Sem conseqüências. E inventor dessa natureza toda; natureza morta. Veja! Lentes de contato para mim. Pra que eu possa te tocar metaforicamente. Só com a luz quando bate na retina. Não saia de foco, não me enforque ainda. Tenho um poema bonito pra te dizer, bem aqui preso na garganta. Poemas, poemas. Já os escrevi demais. Mas se é somente assim que te vivo. Aceite o meu poder se saber fazer isso bem feito.
Farei-te mais.





[Kate Polladsky]

Monday, November 24, 2008

Porque não suporta ser idiota.
Por tão pouco.
Portanto, foi demais.
Não tratou começo como começo
Seria errôneo não tratar fim como fim
Ou padecer no tanto faz.
Tem gente que vive disso
Eu não quero viver mais.
Fazer feliz é muito simples.
É só deixar ir.
Vai...



Kate Polladsky



Sunday, November 23, 2008

Amou Fernanda, que anda sem saber o porquê ainda. Acha que lamenta o sentimento, tanto quanto o lamento. Ah, sinceramente. Confunde-se em si. Tem dona e tem direção, o coração do moço, mas rumo não tem. Sentido também não. Olhou Fernanda como se houvesse apenas sul, no cruzeiro todo. E lá se perdeu um instante. Isso é, para sempre. No tempo cronológico do seu coração. Quem se importa? Não sabe mesmo lidar com tudo. Será que a perde? Agora que Fernanda acha tantas coisas. Talvez ache o moço que se joga bem no meio do caminho. Ou talvez, passe despercebida, encabulada e de saída. Um maço já foi. Dois, ou três ou mais. Não fuma. Na verdade é pela companhia de não queimar só. Por dentro, que é pior. A dor é invisível e não deixa rastro. Mas registra. Marca. Fica. Ao se dar por vencido, permanece. E jaz. [Disse pra si mesmo:] Fernanda! Sabia que enquanto morro te amo mais? Mas se eu vivesse; juro que não seria capaz. Porque dói muito te amar, Fernanda. Assim sem um por que. Apenas porque vivo, sabe.






[Kate Polladsky]

Thursday, November 13, 2008

Jamais escreveria poemas pra você, se não quisesse falar sobre mim. Não busco apoio e nem quero me adentrar em todas as coisas que lhes diz respeito. É uma troca injusta, ser eu e eu ser você e você não ser. Porque eu, não sou. Não sei em quê quero tornar-me. Para tornar-me tenho agora que ser algo. E já não me sinto assim, tão formada. Sinto-me inconformada, isso sim. Jamais te reduziria a mim, sendo você o colosso que é e seus significados. Jamais te tocaria tão profundamente, sendo o vazio que sou, no vazio em que estou. É somente isso que preencho. Quando falo, não digo nada. Quando silencio me exponho demais, e é estranhamente assim que me desconhecem. O caminho por onde anda a minha existência não leva a lugar algum, mas pobre dela que anda tanto sem rumo, e compartilha apenas os calos. Sem quaisquer descobertas, continua no escuro. Jamais te amaria como amo, se quem eu amo me amasse. Por isso jamais deveria amar. Amor não é um dever. Não sei porque sinto como se me devesse isso. E a você. Vai dormir então, no meu adormecer. Se não somos o mesmo, somos do mesmo. Mas algo sempre há de se perder. Não consigo explicar. O fato é que os explicativos, todos eles moram em mim. Mas sou seu desabrigo. Jamais entenderia, se eu me fizesse estendida de entender.
Kate Polladsky

Tuesday, November 11, 2008


Sou aquela pessoinha, cujo sol nasceu poente. Que leva na pele um arrepio leve, e quase nem dorme criando palavras, que juntas digam alguma coisa. Que a diga o que ser para não se justificar demais entre as coisas que a tornam, digamos assim, tão quase. Humaniza tantos sentimentos frios, quentes, doces e amargos. Os tornam tão vivos, quase órgão dentro de si. Depois param, e por um momento todo o ser se cala. Morre. Contudo, sou aquela esperança demente; que não se engrandece demais, mas é semente. E logo, germina outra vez. Apenas quem nasce um amor quadrado e o gira em seu interior. Vira tão cedo a tarde, porque doa sua noite ao espanto de acordar com toda luz em seu caminho. Sou aquela pessoinha que é pássaro e é ninho. Será abriga bem sua liberdade? Talvez ela sequer voe. Abstrai tanto o que sente, cai muito pouco em si quando ama, parece que vive dormente. Quase sempre, amor foi um pesar. Apenas pra não passar em branco, tenta colorir seu vazio. Põe-se no lugar de quem anda descontente e distante, um tanto quanto lunar. Observa os detalhezinhos, silencia o todo e gravita em seu pensar.









Kate Polladsky
Um momento. Um olhar
Torceu-se por dentro e pairou
Como folha de papel em branco
Seda e sobretudo sede
Fitou como se tocasse
Aquele ser era também um estar
Naquele instante acha que estava sendo sincera
Com ninguém mais do que si mesma
E naquele momento, como se nada mais importasse
Deixou-se olhar.



KP

Monday, November 10, 2008




Dei minhas lembranças a um pedaço de mar. Vi flutuar minhas sagas ao teu lado e por fim, vi meu sangue quente, de um músculo errante e pulsante, afundar. Joguei meu corpo nas ondas, como quem quer se lavar por dentro e como quem levava por dentro um oceano de águas passadas aonde eu quase me deixei levar. Me perguntei em silêncio se aquilo tudo me pertencia ou se era tudo aquilo que perdi. Ainda carregava uma dor densa, quem sabe o mesmo mar te banhava em outro lugar. Era mesmo o peso do que eu sentia que me impedia de nadar. E fugir depressa do que eu era. Quase a tua costa, uma linha tênue de rochedo que te segurava firme, e te impedia de transbordar. Para que não se gastasse afora, nem se enchesse demais, de um mundo de outrora, cuja aurora se desfaz. Minhas lembranças foram todas inteiras. Hoje se despedem em pedaços, pontos e traços que sequer sabem que pedaço do mar riscar.


KP
Now I’m free. I may be locked inside myself, but I’m free.
Not a bird, not a space to fill in, not a time to waste.
I’m free from my past. Then again, it feels like a new taste.
No, I haven’t got new arms to laze on.
No I haven’t got different lips to run for.
I just got my heart back. And it’s all I needed.
I just got my sanity back. And it’s all I missed.
I’m thrown back into the darkness.
And yes, it scares me. I’m lost and lonesome.
But I’m mine. And my spirit is lighter.
I don’t feel like a loser. Nor like a fighter.
It is none of my business anymore
To measure my love or pick you up in the storm
It’s even senseless to think about before
As something so kind, so big, so true.
Now I’m free to ignore and make things work out.
Looking forward to see a new horizon.
To light my way with a brighter sun
And now that I’m free, darling
I got half way gone.



KP

Friday, November 07, 2008

Liz quis ser a minha flor.
E reluziu a sua cor no meu universo.
Dei-lhe meu coração, um palco e meu verso.
Quando a conheci me tornei uma atriz do amor.
Fui feliz para sempre por um triz.
Nunca perdi nada.
Nunca tive mais do que quis.
Eu sempre quis um pouco da essência do mundo.
Ser o duo. Ser o uno.
E sempre quis me encontrar no que uma palavra obscura diz.
Agora só quero uma luz, uma fresta, um olhar.
E ah! Me entregar a uma flor de Liz.
KP.

Thursday, November 06, 2008

Dizem que quando ela acorda sente o peso do mundo que a adormeceu. Das rosas no canteiro já murchas, das marchas de carnavais já silenciosas, das mechas de cabelos já perdendo sua cor jovial. De tantas coisas de sempre, que quase sempre lhes pareceram coisas sem importância, mas agora as percebem enquanto desacorda e até sente falta. Quando mentia, confundia com verdade cada palavra, e jurava a todos que jamais mentia. Sua verdade era burra e ingênua, era pouco social também.
Dizia que os dias de chuva eram quentes, tão forte se enrolava nos lençóis, formando um ninho de si e de seus medos. Jamais quis estar na chuva para se molhar. Criou-se seca e intocável. Certo dia viu passar na rua uma criatura de olhar tão brilhante, que nele reconheceu uma constelação, e daí por diante carregava dentro de si um planeta, cuja órbita ela não sabia quando veria novamente passar, mas sentia que a deixava tonta, só de pensar.
Dizem que quando ela ama, surta. Finge-se de cega, de perdida, não dá ouvidos a mais ninguém, que não o amor que a escurece, que toma sua bússola e rouba sua música mundana. Já nem dança, seus pés sequer obedecem, apenas corre para os mesmos braços, não anda. Quando um amor desses chega ao fim, a vida a desengana. Seu coração padece, o que há de mais doce nas frutas proibidas torna-se amargo e os pães sobre a mesa apodrecem. Não se alimenta de coisa alguma, e logo flutua de sobre-morte. Pessoas juntam votos para que sobreviva e então ela acorda, alimenta-se de si e aos poucos sente de novo o peso do mundo que a adormeceu. Tão bom é dormir. Sonhar acordada nem é. Isso a deixa tão leve, que nada a prende. Perde seu equilíbrio com a altura dos sonhos, e cai como se fosse o próprio muro que a divide. Ela tornou-se construção, mas retornou ao estado de pedras. Alguém a pega e arremessa no lago, vê-la pular e afundar seu corpinho de matéria perene sob os lençóis freáticos, molhados dos dias de chuva. Seu ninho a nasce, breve como um cochilo. E tudo o que há, ganha importância em seu mundo. Assim dizem. - KP.

Wednesday, November 05, 2008

Pensando que... Se eu pudesse sentir por você, o que sentiria por mim agora? Se pudesse sumir da confusão, da multidão que se formou, o que sussurraria no meu ouvido, num silêncio vasto, apenas o toque da sua mão e a sua voz que paira. Se eu a pudesse guardar numa ligação, o que me diria agora? Que é tarde e não é mais nada? Nada posso fazer pra alcançar um destino? Pensando que se eu não fosse tão racional... Teria a coragem de trocar o meu coração pelo seu, e assim merecer amor. E se por acaso, toda a minha racionalidade você tivesse, pensaria em algo a mais, pensaria em mim, ou tanto faz? É impossível esquecer. Queria pensar assim, por mim e por você. Não sei onde está agora seu pensamento, se está num certo momento, na indiferença, ou no lamento. Mas se eu pudesse voltar e estar na porta da sua casa, se eu estivesse lá por você e isso não fosse tão ruim, mudaria alguma coisa para que eu me encontrasse, e não me sentisse tão desabrigada assim?
Kate Polladsky
As entrelinhas que me riscam, não percebem. Meu mundo pendente, nem meu é. Me tomam tudo o que sou, e o que me resta, é a dor que sinto em ter demais, o que não é meu. Como posso ser tanto para tantos, se para mim tanto faz? Se tenho fraqueza, ou tenho beleza, entendem bem o que pareço ser, mas sei que não conhecem o que me faz. Esse ser de obrigação, da minha abstração de ser. Aos que me vêem de frente, ou de costas, me enxergam pouco por dentro. Gritam muito atrás de mim. Hoje, eu preciso mesmo é enfrentar tudo com silêncio. Essa rotina que me eleva, também me pesa. Mas saibam, que nada faço por pesar. Apesar de tudo, sinto me livre em tê-los para que me tenham. Mas tenham dó ou paciência, às vezes pra mim não dá. Amo todos com a violência de quem briga para que estejam sempre em paz. Embora por vezes, sinto me em clausura. Não sei como agir, não tenho como fugir da minha própria alcatraz. - KP.

Tuesday, November 04, 2008

Quando ela acreditava em amor, sabia falá-lo, cantá-lo bem. Escrevia o que sentia e não o que via acontecer. Não era amor descritivo, nem narrativo. Era amor poético e pausado. Sensitivo e predisposto a tudo. Passeava em idas, voltava renovado. Servia quente no prato, roubava para alimentá-lo. Era amor prático e óbvio, dos dias que surgem, de alguns que se desgastam. Quando ela acordava, sentia o cheiro do amor, nas roupas, na voz insone, sentia o amor nos cabelos despenteados, nas mãos macias, na pele de toque adormecido e principalmente sentia o pensamento morar num só nome. O abrigo dela; e não só dela, mas de toda a extensão por onde se criava, cada acre. Ela acreditava que amor não durava em memórias, mas em lapsos. Era o maior segredo do depois, presente que o sol trazia na manhã seguinte, protegido até a quebra do lacre: um “bom dia” sonolento, apenas olho no olho. Acordou o seu amor, mais um milagre.
Jurava pra si mesma que o amor que tinha, não era mistério nem era vestígio. Não dava sinais do quê o formava, mas transformava-se com malícia em presságio. Era assombroso. A sombra que dava, a luz que absorvia, já quase um ser vivo o amor se enraizava.
Mas aos poucos, o amor foi tornando-se palavras. Proferidas em vão, para feridas rasas. Ia se aprofundando e em algum momento, não mais lhe parecia dádiva. Corações ao avesso, e cada página perdia seu verso. O amor ficou pálido e sem grafia. Virou sopro. Pássaro sem asa. Caminhava somente à margem e nem mais sonhava. Fossilizava-se na lágrima. Deu de ombros, nada mais o sustentava. Um êxtase do fim.
Quando se lembra do amor, esquiva-se no tempo. Sente enjôo da dor que lhe traz, tantas lembranças ainda recentes, ganhando a cor sépia. Era chama, agora é fuligem. Ela se desfaz do amor que jaz. Do corte que vive a enxaguar, para que estanque, que pare de jorrar a seiva. E a limpe, para outras crenças. Que não o amor.
Acredita talvez, apenas na sua vertigem. O amor de passagem. Uma neblina. De certo trará outra visão, quando passar. Ela até diria que amor é uma miragem.

[Acaso]

Levanta a pálpebra. O que acreditara sofre com a maresia. É água-viva. Seu impulso flutuante. E volta ao amor, ainda que discretamente. Talvez ainda desacredite e pense diferente. Mas olhem-na: ela ama novamente.

Quer pense diferente sobre o amor, quer sinta diferente o mesmo sabor. Desconfia que dois a dois juntos não formam um só. Mas um cardume. Multiplica-se no interior sem medo ou arrependimento. Amor fácil e leve, não se perde e nem termina, já nasce escasso. Da raridade que é, transitar entre “quando era” e “quando for”. O amor acreditava nela, quando era. E ela, acreditará no amor enquanto for.
KATE POLLADSKY

Monday, November 03, 2008

O seu ar me agride. É seco, denso, pendendo pra si. Um tanto confuso e despreocupado, que despreza, ou que inconscientemente dispensa. Mas algo em ti é agridoce. Algo de sua essência me capta, e logo em seguida, me captura. Existe uma leveza sua que pesa nos meus olhos, sua natureza flutua. É tão delicada, mas quando pousa em mim, por acaso, me corrói. Vai me descontruindo. Como uma onda rasteira atrás da outra batendo num castelo arenoso. A primeira devasta, a segunda vem desconfiada e a última, fraca e tímida. Depois volta, arrastando-se de grãos.
A sua voz intimida. É imposta, é suposta. Tão curiosa de sonoridade que quase é pergunta. E é o próprio complemento, uma resposta. Quer ser sábia num tom leigo, simples. Sarcasticamente castiga, engana e mede. Como se fossem seus próprios olhos encara. E assim sua voz prepara seu berço pra o que quer ouvir. Já ganha mimo, ou um ninar debochado, gosta de adormecer assim.
Seu olhar é antipático, hierárquico, atípico. Adapta-se ao que vê, embora não goste. Quando assim, coloca o que for de canto; como se já não servisse. E a vista limpasse. Poderia escolher estar ou não estar presente. Mas seu olhar não foge, porque não é covarde. Nem fica porque é inquieto. Simbolicamente é um olhar acolhedor, colhido da castanheira. Ele é assim meio doce-mel, meio mundo e meio madeira. Por vezes, o noto meio radar. Nunca presenciei meio perdido o seu olhar. Nem mesmo ao meio, dividido entre uma coisa e outra. Decidido demais, não a deixa olhar pra trás. Fecha seu panorama em ângulo agudo. Invejo a paisagem que no seu olhar pousa.
O seu gesto é acanhado. É cabível e é cabide. Pendura-se no ombro daquele com quem compartilha a mesma linhagem de passos, ou naquele com quem perdurou um instante.
É um gesto miniatura. De identidade formada, decidido das superfícies. Gesto de meticulosidade, de firmeza bruta. Gesto escorregadio, desorientado ou plácido. Dependente do gestor, do maestro que o toque, que o leve, que o guarde por merecimento. O seu gesto é eterno, exatamente naquele momento. Doura o que toca com a pele.
Os seus traços, todos eles significam. Todos eles permanecem e são notados. Traços vivos, que não existem apenas para si, por estarem ali como seus pertences básicos. São traços artísticos, desenhados a partir do seu eu imperfeito. Traços seus que esboçam algo a mais, até menos do que gostaria. Alguns ficam descontinuados e descrentes, mesmo assim são eles que crescem acompanhando suas beiradas e bordam o tecido que veste sua pessoa. Isso de unificar os todos seus, teve de nascer todo de uma vez só. Das coisas que não se encontram de outra maneira em outro alguém. Porque cada coisa sua, é única. E o seu tudo, também.
Kate Polladsky
Não há mais nada a se falar de amor.
Amor é um objeto.. Que o meu espírito infantil o agarre como algo sem valor, sem cor, sem som e o arremesse no chão. O que fazer com cacos de amor? A dor os juntaria, tentaria de todas as formas torná-lo inteiro e divisível. Mas não compartilhável. Seguiria como objeto cortante, inutilizado. Com pontas e irregularidades.
Não entendo de amor, nem de falas. Entendo de bocas e palavras ao vento. De calúnia, de calos, mas de amor... Eu me rendo. Saberia falar mais do mar e de tormentas.
Uma vez acho que amei. Mas não amei a vez que amei, porque não fui amor. Não fui amado. Não fui. Voltei desamparado e vazio. A minha exigência com o simples tornou tudo muito complicado, e amor não é fácil de lidar. Por isso me ignorou, sei que esse é um dos por quês. O que não se justifica.
Caberia o nada no amor? Quando se sente nada, é um ato amável consigo mesmo? Protegido de ilusão. Blinda o coração. Mas e se ele envelhece, torna-se célula morta, antes de tornar-se céu para alguém. Não importa.
Se o amor falasse, o que me diria? Que de todas as vezes que amei, deu tudo certo. Mas no fim, estaria uma errata e meu nome nela. Agradeço. Pois se o amor falasse, tenho certeza que me seria sincero, e não criaria um mal entendido. Eu não o entenderia, me pareceria mudo. Então melhor que assim o seja. Mudo. Não há mais nada a ser falar de amor.
KP

Sunday, November 02, 2008

Veio agora morrer. Joga-se no sofá e o tempo a come, no mesmo prato sujo de ontem. A mistura dos grãos e as quebras rotineiras das beiras que a constrói. Que louça é essa? É mulher? Que brevidade do fim, deixar-se sucumbir nas mãos do talher.
Furem-na, partam-na ao meio, depois a joguem no fundo do seu mundo indigesto.
Disse a todos os elfos, que não acredita em fantasia. Mas tem o costume de mulher-maravilha, que não se salva dos heróis por quem se apaixona, e jamais termina seus capítulos. Ignora-os, perduram e tornam-se perfeitos, tantas vezes se repetem.
Não sabe o que respira, liberta do que a inspira, tem apenas alternativas excludentes. Sorri para todas as mentes brilhantes, seu brilho fosco pintou o acabamento que tem. Quando se acabou e a tinta fresca secou, sentiu na pele brisa nenhuma. E agora, isolada de tudo, pede apenas o descanso. E o descaso por acaso é consigo? Veio agora pedir que a perdoe, por ter o cabimento de não caber no que sente. Disse "sinto muito" e foi morrer. Agora vive em paz. Vai entender. Do que mulher é capaz.




Kate Polladsky
Meu poema pra você não tem mais repertório e o som é eternamente um dom de se ouvir o nada. Minha vontade de te dizer ou desdizer, passou.
Não preciso mais da cultura nem das palavras, o que eu quero de você é coisa calada e quente. Deveria ter lhe dado um beijo na boca, quando o tempo estava a meu favor, teria deixado a minha cor pra formar de vez o arco- íris. A essa hora, haveria um filme curto, em câmera lenta, passando na minha cabeça, nele colocaria legenda alguma. O que quer que eu fizesse do beijo, ficaria subentendido e jamais traduziria para outra língua.
Meu poema não tem graça, mas tem gosto. E tem gotas que pingam lentas, apenas quando chovo, quando me molha a alma e o meu coração lubrificado, suporta mais uma batida e escapa da morte.
Tudo o que escrevo é imaginação. E se um amor contraditório como o meu sobreviver, o que contará para as próximas gerações? Histórias para dormir. A canção do sono e a oração das horas noturnas. Abençoe somente o meu desejo, que é mais fácil de lidar. É mais perto, é de pele. Esqueça sentimento, não vai querer lembrar de mim quando eu lhe disser que te amo todos os dias.
Meu poema tem uma alma desestruturada mas costura algumas rimas, porque rima me lembra beleza, a sonoridade suave e lógica. Me lembra você.
O seu rosto quando se desfaz todo na minha mente, mistura-se com os pensamentos e vira nó.
Verá que nós não cumpriremos missão nenhuma. Nada se tornará acontecimento.
Não sei o que te mostrar com meu poema. Seu rosto virou a paisagem e o ponto de referência. E eu quero ser apenas visitante. Se tu tens uma cidade fantasma escondida na minha morada, já lhes digo que não me assusta. Nada desse tudo, tem significado. Mas tem criação.
No que eu queria pôr a perder, inclui provocar-te um impulso incontrolável de me ter. Que minha ausência agredisse, que sua libido agradecesse. Que algo de mim agradasse e seu destino grudasse no meu.
Meu poema nasceu perdido e já com saudades. Ele pede que releve. Poema sem classe, sem versos de maldade, sem mentiras, sem verdades. Que depende de ti, pra ser mudado, pra ser medido e ser tocado. Jamais trocado por outro.
Kate Polladsky

Saturday, November 01, 2008

Daqui por diante, só com você do meu lado.
Perto, longe, perto, longe.
Só, mas com você do meu lado de dentro.
Minha pele tem pressa, minha vontade não cessa.
Não toca o tempo lento. Nem joga de novo os dados.
O primeiro se chama sorte, o segundo se chama amor.
Nem acredite tanto em acaso.
Mas se caso contrário... Aqui estou.
Algumas palavras chaves sobre você.
Teu significado sem sentido sentiu-se livre
Por um acaso me decifrou.
Roubei-o em forma de empréstimo.
Sentiu-se roubada e me visitou
Nunca mais foi embora de mim
Solidão me perdoou.
Roubar suas palavras-chaves
Me abriu seu coração
E somos nós o nosso achado
Daqui por diante
Perto, longe, perto, longe
Só com você do meu lado.




KP
Vou muito tua e muito tímida.
Vou muito leve e muito nítida.
Verás quando eu chegar.
KP