Tuesday, September 30, 2008

Já nem sabe em que nível está.
Se está ao nível.
Se há de se nivelar.
Já que pergunta, por que pergunta em que nível está?
Pode ser que esteja desnivelado agora.
Ou ao nível do mar?
Nesse nível se navega... Ou se afunda.
Nem sabe a que nível chegou.
Nem se chegará.
Já sabe de todos os níveis.
Eu nem sei mais...
Vou me perguntar.


[...Para você que me carrega no sereno, e me pergunta respostas]


KP
Agora acho que se extingue. Deixou-se levar, lavar-se demais. Talvez agora um enxágüe por dentro. E se acalme, se vicie no secar do vento, com outros ares. Quer respirar, não? Transpirar tudo isso foi febre. A aqueceu por um instante, tanto. A queimou por uma eternidade, tanto. O que sobrará será que serão cinzas? Depois que molhar tudo embora. Não há o que regar.Nada brota. Não lhe deve continuidade. Arrancar? É um tirar de vida, um tirar de linha, desalinhar. Irá puxar um fio assim, e sem que nem percebam vai se desfazer feito novelo. Sempre tão sólido, o gelo amornado, derreter-se-à. Se não se extingue agora, uma hora irá? Acho que não é obrigação manter isso tudo. Mas já pesa muito em toda sua leveza. Que diferença faria continuar? Faria diferença? Carregar, descarregar. Prezado inquilino, não é por nada. É porque não há lugar para ela. Abandono de lar. Que só abriga um dentro, mas não quer estar lá.

KP


Monday, September 29, 2008

Já tinha chegado de lugar nenhum. De um sentimento perdido perpetuando perda. Ser inanimado, amor. Já nem gosto tanto de você, já nem te esqueço, já morro de saudade, já morro cansada de ir e vir entre seres. Um ser eu, um ser tu. Tudo eu invento, nada crio? Nada nasce em mim de raízes. Embora seja eu o lírio dos teus olhos. Embora seja você a borboleta que eu escolhi como liberdade pra ter. Te tenho? Te solto? Até vejo beleza em tudo. Mas sofro. É um tanto decadente que tenho tudo e não tenho nada. Tenho uma dúvida certa. A minha certeza sempre duvida. Não sei se de mim, ou de você. É algo que vem de dentro. Aflora e murcha. Mas não morre. Às vezes acorda, como de um sonho ruim. Às vezes dorme, como que de tédio. Não sei bem, se espero demais, se espero ter mais. Há dias em que sou indiferente à espera. Acho tudo tão fugaz. Mas são esperas diferentes, são dias iguais. Acabei voltando à minha natureza por você. Já tinha chegado a acreditar, que não me esperaria nascer lírio novamente, nem que borboletas voassem pra mim. Quase me preenche ou me engana com caberes, e já nem acho tão vazio assim.

Kate Polladsky

Sunday, September 28, 2008

Pense que, só não te amo mais porque me falta nascer de novo. Não te suponho não te indago não te questiono. Porque não tenho dúvidas. Não te amanheço porque não te anoiteço. Sei que não te perco um só instante, um só dia. Para mim é o bastante, você me basta eu diria. Pense que só não te digo mais porque gastaria palavras. Elas não teriam mais o mesmo gosto, e eu sei que você gosta assim. Amor calado e gritante, subentendido para sub-amantes. Não preciso de mais. Nem de nada seu e nem me dar ou tirar de mim. Já tenho o seu todo que me completa, o seu tudo que me deu pra eu guardar. Tenho minha vida que te nasce, teu sol nascente na minha vida
Pense que, só não te amo mais do que amar.
Kate Polladsky

Friday, September 26, 2008


Não vou deixar de lado um quê de quem quer.
Não sabe o que quer, mais o que há de ser?
Que você queira um pouco; divide comigo um pedaço.
Um recorte do bolo quisto, ou um traço.
Eu quero muito, sei que te quero muito bem.
Sei o bem que me faz você, mas não sei
Se te querer também.
Eu quero acima de tudo isso que não queria pensar.
Penso o dia todo e penso que você também queira
Não vou deixar de lado, lá bem longe meu querer
Tudo o que eu quero é que o que eu quero possa ser.
Virar um querer tido, não um quer tenha quer não.
E que isso faça mal, não se pode ter tudo o que se quer
Queria ver a sua cara, quando descobrisse o meu quiçá
Que agora virou certeza, eu quero pôr à mesa o amor
Pra você querer me amar.
KP
Talvez demore pra você existir.
Eu não vou insistir. Não vou insistir.
Talvez você saiba que cabe bem em mim.
Ainda há espaço pra você ficar.
Ainda há tempo pra você se decidir.
Um dia é só um dia, mas é um dia só.
É sempre assim, só você diria como é ser assim.
Talvez eu invente saudade
É verdade, não vou desistir.
Ás vezes caminho pela metade
E a outra metade encaminho pra ti.
Com razão, eu às vezes esqueço
Você anda tão mudada
Anda de mudança por nada
Não me deu seu novo endereço
Talvez eu não consiga dormir
Sonho tudo de olhos abertos
Não quero perder o mundo estranho
Quero conhecer mais de perto
Quem saberá o que ganho
Amanhã nada é certo.
Talvez você não chegue logo
Logo vou atrás de você
Se eu te achar me aviso cedo
Cedo ou tarde posso te perder
Talvez demore pra você insistir
Mas eu peço a quem possa
Que me ponha nas mãos algo teu
E um tal amor que nos mereça
Amor de muito antes de existir.

Kate Polladsky

E por que não morri na mesma hora? Acho que morri, só percebo agora. Morro quando chega morro quando sai. Quando eu vejo morro, morro quando me cega a silhueta. Quando é finalmente, depois de esperar tanto, fujo. Quase estou ali. Confesso que ali sou só a vontade de você. Melhor dizer que sou toda a esperança, de que todo o pensamento que junto se perca num só lugar. Sou toda desistência desse eu que não controlo. Quer-me e me conserta? Explica-me sobre isso que sou quando você está ou não está. Desfez-se o eu - padrão. Toda essa estranheza oscilante é simplesmente porque não me abraça um minuto pra sempre, em silêncio em um acordo de pele. Ao menos um desejo incontrolável de apenas sentir, e segurar forte, quase nunca mais largar.

KP

Thursday, September 25, 2008

I´ll give you space.
So you can breath, it´s a new pace.
I´ll give you place, so you can move closer to me.
Or can you walk away; are you gone from me, today?
I´ll give you lips. So you can do whatever
Turn into a kiss, I´d give you.
I won´t make you stay.
When it is you who makes your own way
And the steps out through my door.
I´ll laugh at you, when you give me the weirdest smile.
And I´ll cry with you, if that tear you drop is mine.
I´ll die for you. If for you I´m more than just a life.
And I´ll tell the truth, when your truth is just a lie.
I´ll give you money. If that can pay your gains.
It is not my money that will afford your waste.
I´ll give you space.
So you can test your wings
I´ll give you humble and ordinary things.
But I won´t give you more or less
Of the freedom it is to be me, when I´m with you.
I´ll give you a spot in your freedom
It is what you still can be, when you´re with me.
I´ll give you love, it is space to hate me.
I´ll give you love, it is place to make me homeless.
I´ll give you love, it is the price you can´t pay for.
I´ll give you love, it is all those things I gave before.




Kate Polladsky
Eu sei exatamente nos braços de quem, terminarei os meus dias.
Os dias de outono tristes, dias de chuva frios, dias de todos os dias.
Eu sei que não serei eu até lá, serei muitas que serei até lá.
E até lá, eu espero que me espere. Que me ame como ama hoje.
Ama tudo o que couber no vazio, e preenche tudo sem precisar tocar.
Sentir basta. E essa intuição de destinos cruzados tem um ventre só.
Espero que descanse bem nos braços de não sei quem.
Que acredite em felicidade e prove dela nos beijos delas.
Mas que hajam braços abertos pra quando eu chegar, e ficar.
Permanecer eu no embrulho, o teu presente que me dou.
Sabes exatamente nos braços de quem, terminará de ler isso.
Sabia disso? Eu também.

KP
[...Para mim mesma: geneticamente você.]

Wednesday, September 24, 2008

Passeia assim na minha mente, como se fosse jardim.
Como se pudesse florir ainda mais.
E se permitisse a tudo, exceto permitir-se o jamais.
Perambula na minha vista, como se perdesse o foco.
E nada se borra, nada aborrece meus olhos.
Vai embora, e nem sabe que eu acompanho.
Mas eu me largo sim, me dou toda.
E nem sabe que me tem.Tem vontade?
Tem um pouco de você pra me ter?
Te seguro a mão e você nem sente, nem me leva.
Te espero mais minutos do que imagina.
Mais minutos do que me dá, no seu dia.
Planta em mim uma mudinha, como se pudesse falar.
Como se não fosse crescer e dar frutos.
Fica em mim como quem se esquecesse de sair.
Como se fosse confortável morar em mim, acha que é?
Vai ficando e me mudando de lugar.
Como se em algum lugar eu estivesse
E uma hora dessas fosse me expulsar.
Magoa a minha mágoa como se aliviasse
Como se percebesse o que acontece.
E nunca mais fosse me machucar.
Aí fala as coisas com tanta graça,
Quase tudo que eu queria ouvir.
E não me pede nada do que eu queria dar
Eu não tenho mais nada pra dar
Mas me dou toda, tá.




KP

Saiu correndo. Foi ver o sol.
Sentir o sal, adoçar tudo de si.
Não foi? Sei muito bem.
Em que oceano tem ido se banhar.
E com que areia constrói seus castelos.
Sei que a areia fina e leve também serve
E que sabe pular ondas, sempre te deu sorte.
Nesse teu corre-corre alguma coisa tem.
Anda muito flutuante, sabe.
Ainda bem que é um bem-estar, né?
Só não sei bem até quando vai durar essa maré.

Kate Polladsky

Meu deus, e como ama.
Como duvida, como cansa quebrar a cara.
Queira ou não queira, possa ou não possa.
Se empoça fundo, cada dorzinha de sentimento que gela.
Alguém há de chegar, vai condensar e fazer chover tudo em alegria.
E vai dançar na chuva, e vai cantar na chuva. Todo dia.
Meu deus, e como espera.
Sem assentos para o cansaço. Apenas espera que sim.
Que tudo aconteça como imagina, na cabeça dela nada fica.
Fica lá fingindo estadia. Sabe ser sem estar.
Se concentra em nada. Só o centro de tudo.
Nada mais em que pensar. E pensa? Tanto, que pesa muito.
Quase pega, sente nas mãos. Se conseguisse, abraçaria para sempre.
E nunca mais dormiria só. Quase não haveria sol, tanto que choveria sua alegria.
Haveria ouro maior no final do arco-íris? Sol e chuva, sol e chuva. Tudo se ilumina agora, hein menina?
Mas como seria? Será que será?
E o seu coração bate tanto assim por quem? Batem á sua porta de madrugada?
A fecham sempre que abre? Empenou a fechadura? Quem sabe.
Bate palmas pra si mesma, menina. Você merece mais do que um teatro.
Merece todo o palco, e as cortinas se abrindo. Cor vermelho sangue. Esse que alimenta todo esse amor por quem te queira.
Meu deus, quem quer saber como ama?
De todo jeito ama. É o jeito, ama.
E como. É quase um quero-quero.
Não te querem menina? Eu quero.




Kate Polladsky
Certas coisas é melhor que se deixe o dito pelo não dito. Para que não morram, ainda que não possam viver também. Ou simplesmente, para que não doam. E não se doem demais. Ademais melhor que se grite o que sente, ou que deixe sentir compreendido e descoberto, com todo o direito do mundo ao silencio. É uma escolha calada, não falar, mas deixar dito. Quem sabe é porque também sente, e sabe interpretar o silencio. Quem não sabe, não há de se importar em entender. Melhor deixar o dito pelo não dito do que desdizer. Desfazer o estrago, recuperar a perda. Melhor se perder.




Kate Polladsky

Tuesday, September 23, 2008

Por qual brecha sempre passa o pedaço seu que invade o todo tudo de cada um que toca?
E se talvez já fosse porta, essa tal brecha? E se o que toca não seja um pedaço, mas uma música toda? ...Canta pra mim?



[... Para o chocolate dos dias de caos].

Kate Polladsky

Monday, September 22, 2008

Reticências

Te guardo, num meio termo.
Assim, protegido do tudo ao meio.
Que se parte, e não volta.
Te penso, sem qualquer racionalidade.
Livre de qualquer impureza dessas.
Que se possa arrepender de ter pensado.
Te cuido, como posso e como me deixas.
Mas te cuido como sou: com todo o cuidado de ser.
Te sou, ainda em mudanças.
Onde começo e termino você não é caminho.
Mas segue. Eu quase consigo caminhar por essa ponte.
Te aguardo. Ali, logo depois do segundo ponto: (...)



Kate Polladsky

Sunday, September 21, 2008

NEM TUDO

Nem tudo o que eu falo é o que penso. Nem tudo o que eu quero é o que peço.
Nem tudo o que entende é o que é. Nem tudo o que invade é o que sou por dentro.
Nem tudo o que toma era meu por certo. Nem tudo o que tenho é o que sou.
Nem tudo o que me resta, sobra. Nem tudo o que eu minto, mente.
Nem tudo o que eu amo merece. Nem tudo o que eu lembro é o que vivi.
Nem tudo o que eu sonho é para mim. Nem tudo o que eu guardo, fica.
Nem tudo o que permanece, dura. Nem tudo o que adormece, dorme.
Nem tudo o que eu ofereço, tenho. Nem tudo é tudo isso.
Nem tudo - é tudo isso. Isso é tudo.


KATE POLLADSKY

Wednesday, September 17, 2008

Dá-me colo?
Ou palavras?
Não é conforto algum quando calas.
Silencia-me então com a boca
E me acomoda nos braços
Entre os baques que a vida dá
Dá-me uma esmola da tua presença
Ainda que do teu vestígio de olhar
Ainda que passando, só por passar.
Dá-me colo?
Coloca-me em meu lugar
Mas não me traia com indiferença
Que arrogância é ignorar
Se não me dá colo
Ao menos diga, o que pode me dar?



KP
E sigo por outro caminho
Porque esse caminho não é meu
Mas se num instante penso em ti,
Nos outros instantes te vivo
E mortalizo todo o sentimento
Que de morto não tem nada
E só segue, desmoralizado.
Descontínuo e denotado de você
Mas se digo por outro caminho
Nenhum outro destino há de ser
Não ponho cabeçalho nem rodapé
Penduro apenas o essencial
Entre um espaço e outro. O que me der.
Mas sigo por outro caminho de mãos vazias
Porque esse caminho me segue de mãos atadas
E atada de tudo, o que posso fazer?
Que não haja caminho então
Desfaça todos o que vão
Me desviar de você
Pode fazer isso?
Sede o meu caminho que há de ser?



Kate Polladsky
Ainda que não te dê a porta
Não te nego as brechas.
[...] Invade e fim.*



Kate Polladsky

*Djavan
Antes que vá embora
Me deixa teu suor ou tua saliva?
Nas minhas mãos, no meu rosto
Me renova a película e os pêlos?
Dos meus olhos, meus cabelos
Antes que vá embora
Adivinha a cor do meu sentimento?
Esse medo do outro passo que vai passando
Rápido e lento, rápido e lento
Antes, vá embora
Que eu chego doendo
Antes de mais ninguém
E antes de mais nada
Eu te espero sempre
Embora não vá
Dizer o que quero.
Mas quero sempre.


KP
Prefere a deixa, ou o deixar?
Prefere que eu te deixe ou
O que eu deixo não vai bastar?
Prefere que eu te baste?
Prefiro deixar que tu prefiras
Pois pra mim sim, basta.



KP
MUITO

É quase sempre muito, o que sinto.
É quase sinto muito.
Não sei o que de muito há nisso
Se é sempre quase.
Não o que eu sinto. Este não é sempre.
E tampouco é quase.
É sempre muito quase, sinto.



KP

Tuesday, September 16, 2008

Vitrine.

Percebi como me olha
Me olha como se quisesse levar da vitrine o coração
Como se o preço da tua curiosidade
Morasse no seu objeto de estudo e na minha exposição
O que observou de novo na minha transparência?
Algo que se negue? Algo que se leve?
Mas deixa de elegância e de passear os olhos
Quebra logo toda essa vitrine
Rouba esse músculo bobo que tanto bate e tanto cala
Com um caco de mim talha seu nome
E batiza teu roubo de amor.



Kate Polladsky

Monday, September 15, 2008

Por que se move tanto?
Tanto foge ou tanto cerca
Porque não se emenda?
É tonta, tantas vezes tenta
Tanta coisa pra fazer
Pelo menos tenta
Seu todo tudo se entortando
Como é que se agüenta?
Anda magoando um tolo?
Talhando os tocos do teu tipo
Tudo é troca
E tranca
Do lado de fora o teu tido?
Não tem nada tão maldito
Que tirar-se do tido
Tipo, trocar pelo que não tem
Mas só tem olhos para o mesmo teto
Tanta lente não adianta
Ta tudo indo muito lento
Talvez por isso se mova tanto

É tonta... todo o tempo.


Kate Polladsky
Passagem

A entrada da saída vai ser a parte mais difícil
Mas quem mandou ensaiar tanto?
E foi passando assim tão lento
Como quem não quer deixar acabar
Mas se ensaia tanto a saída
Por que não entra de cabeça?
E se ela passar será que se acaba?
O amor que entrou assim de fininho
Por todas as brechas?


Kate Polladsky

Saturday, September 13, 2008

Vestido de Costa Nua

Ficar entre os calos dos seus dedos de arranhar-céus
Caminhar trôpego e indecente entre teus móveis
Pés, braços e mãos
Cair junto a noite, nos teus cabelos de colchão
Subir teus andares, abrir suas portas
Atravessar tua ponte de corpo
E tuas partes onde tudo continua
Desatar as atas, descansar os atos
Sem que permita o esfriar da rua
Amarrotar os lados e permanecer o cheiro
No teu vestido de costa nua


KP

Thursday, September 11, 2008

MAL ESTAR

Se eu não estivesse aqui
Seria tua, e seria livre.
Seria teu lar, teu lugar de descanso
Seria mais fácil amar.
Se eu não estivesse aqui
Seria mais arejado
Tudo estaria aberto
Minhas, verdades, minhas mentiras
Meu coração e tudo mais que há
Menos a porta de saída.
Não quero você lá
Se eu não estivesse aqui
Tudo seria mais perto
Também seria irreal
Ser assim distante maltrata
Tudo o que é possível não faz falta
Pra quem não pode voar
Se eu não estivesse aqui, eu juro
Que seria a tua última escolha
Pro resto da vida
O resto das folhas
Pros teus versos
Pros teus sonhos gritarem
Sem que precise ouvir
O que os outros falarem
Por mim, eu ficaria
Mas essa vida aqui
É como se eu não dissesse
Nada do que acabei de dizer
Então é melhor que te escreva tudo
O que sinto e o que sou
Como se eu não estivesse aqui
Mas estou.


KP

E com um pensamento gestante de você...
Não te nasce.
Nem te aborta.




Kate Polladsky

Tuesday, September 09, 2008

Sei que prefiro os dias que danço
Com ou sem passos certos
Só ou somente um pouco
Ainda que bata nos cantos
Prefiro os dias que danço
A desenfrear-me na música
Que canto para tocar você
Que toco para cantar você
E desencantar um público de sóis poentes
De poetas e lentes
Que não querem me ver dançante.



KP

Troca-me os lados e isso que tu vês, ou enxerga ou percebe, não tem perseverança de ser. O lado certo é todo aquele antes de você. Não sou códigos ou senhas, e sempre teve todos os meus traços na mão. Leu-os quando quis e quando não. Mas não posso impor que leia corretamente. Leia como quiser, e me veja como quiser. Queria eu saber a sua maneira. O que foi que eu fiz? Não são os teus passos que estão sempre de saída. Por mais ausente que isso seja às vezes volta, e me agride aqui dentro, acredite. Pior se tivessem ido embora. Ou não sei. Descomplique. Passe e fique. Pacifique.

Agora seu olhar é que foge. Sinto que o castiga; o põe de lado. Como se eu fosse vago, como se quisesse tu cegar-se vagamente de mim. Essa é a parte mais cômica. Se eu conseguisse chorar, choraria. O que importa é que me simplificou imensamente, enquanto te compliquei até os pontos. E agora morro de medo dos tais. Precisaria que fossem contínuos; não finais.

Devo ter errado em alguma coisa. Erros acontecem. Eu aconteço. Mas acontece que ainda não é vantagem te acordar enquanto adormeço. Não saberia que sonho contar e sou capaz de inventar sonhos. Fui capaz de te inventar. Para que me reinventasse, ou entendesse um pouco a minha reinvenção. Então vêm as perguntas. A arcada das perguntas me monta e me amontoam respostas que são tudo, respostas... Não. E são coisas que eu vou abrir, sempre que quiser. Queira sempre, tem direito a isso.

Agradeço a pressão que me fez, sem saber, para que eu voltasse para o mundo mais mortal. Esse que não precisa de conveniência, nem distância. Esse que uma coisa é minha, é sua, do que me pede e do que dou, ainda que não tenha coerência, mas acho que não lhe tenho mais espaço para et coeteras. Assim vou te perder. E se perder-se também é caminho, perdi o suficiente pra encaminhar tudo pro lado contrário ao que deveria. Agora sinto que me achei sem precisar me encontrar em algum lugar, como queria. Foi como tudo começou. Impliquei com o desconhecido, não me conhecia ainda. Nem você, nem eu. Agora que desisti de me encontrar e te perder, qualquer dúvida será bem vinda.

Monday, September 08, 2008

ACHISMO

Não preciso ser o que digo que sou
Sou o que sou. O que você acha disso?
Uma meia verdade não é uma mentira
Não vejo nada de mal nisso.
Mas digo tantas coisas.
Digo que estou quando não estou.
E vou voltando quando na verdade, vou.
Não acho que as coisas terminem por aí
Mas quer achar que acabou?


KP

Sunday, September 07, 2008

Queixo e mãos

Depois não sei mais para onde olhar
Pra tua imponência ou pro teu descanso
Pros movimentos que não alcanço
Mas dá gosto ver passar
Aquilo que se divide
Pares em queixo, em lábios
Pares que parecem nunca desejar
Ficarem a sós com os dedos
Passeio perante e por onde nunca pensei
Sem que parasse por distração
Ou procurasse permanecer
Depois não sei como se conheceram
Como irmãos
Junto então o corpo
Dos meus olhos parênteses
Como se tocassem e morassem
No teu queixo e mãos.



Kate Polladsky
Brincaremos de não-direção
Correremos de tudo
Cairemos confusos no chão
Cada um do seu lado
Olharemos desconfiados
Achando coisas
Perdendo outras
Não quer uma amizade de brinde
Diga-me
Se não sabe brincar, não brinque.


KP
Muitos

Vai sair de mim então
Os muitos que são o que sou?
Vai sumir com a verdade
Trancar-se sem grade
Apenas a serenidade
Que muitos dizem que sou?
Vai sobretudo tentar
Ser sóbrio, não ser só e sem sentido
Ser servido da natureza imprópria
Que muitos se apropriam tão bem
Eu não a quero, mas se a tenho?
Vai sair de mim então?
Os muitos que são o que sou.
Eu acho que arranco
Mas não retiro
Não é célula ruim o que sinto
Mas virou metástase
É fase de empecilho
Muitos tantos pela metade
Correndo frouxo sem direção vou
Desconhecendo-me em água corrente
Até que o muito leve à exaustão
Muitos mesmo que são
Soou como o que sou
Exatamente.


Kate Polladsky

Saturday, September 06, 2008

Acho que me adapto a qualquer tipo de amor seu.
Do amor sábio de sentar num banco, ao amor instintivo de encostar na parede.
Do amor de saldos nulos ao de derrubar muros.
Acho que me adaptei a ser do amor, ainda que não seja sua.
Mas seja crua essa vontade de te ter.
Até que me esquente o suficiente para comer a carne mole do meu coração
Aliás...
Adaptar-se não.
Acho que é deixar-se ser.


KP
17/07/87

Às sete ela dormia em oito.
Desde os sete, seta nenhuma a orientava.
“Oi, tô pouco me importando” com os teus anos.
“Sou do ano de julho”, eu juro.
Sentia-se sempre centrada nas beiras.
E beirava o centro de tudo por isso.
Sete, não era de Setembro.
Era dos dias da semana e era de quem amava.
Era ímpar e era boba.
Mas não dava bobeira tão fácil, com os outros números.
Somava mesmo. E difícil era quem a dividisse.
Como um dezessete.
Como dizem as clavas em oitavas.
E os cânceres de oitenta e sete.



KP



[... Para o chocolate dos dias de caos].
As idéias não batem
As mãos não se encaixam
As bocas não são caras
Nem se entregam
A tentativa não deu em nada
As mágoas são nenhuma
Às possibilidades
Dou a trégua
Eu não te amo, em suma.


Kate Polladsky
E por favor, não se pare.
Continue-me.
Não separe, me duvide.
Divida-me em seres pares.
Ou me apare em um pires
Peça-me bem pura
Meça-me perenemente
Em amperes.
Impeça.
E por favor, não me conte.
Algo assim tão...
Não me conte!
Em partes por milhão.




Kate Polladsky
Contudo

Tenho a impressão que me sopras o vento que me faz ventania.
E que me atordoa a poeira nos olhos, me substitui a vista.
Tenho a ferida de quem venceu um dragão, sem espada, nem escudo.
Sem tudo de todo sentimento esdrúxulo, apenas a esquisitice de ser.
Contudo...
Tenho a intensidade da intenção, e a meninice da invenção, que acabou de nascer.
O que me apressa, me apessoa dos freios, cada vez mais insanos. Cada vez mais gastos.
Cada vez mais gestos, e menos palavras na sua presença.
Uma observação desorientada, de tocaia. Pairo meus cílios na tua longitude.
Se é virtude, não sei. Volta e meia morro na praia. Tentando adoçar o teu mar.
E sinto o gosto insosso da minha maré, o tempero que é o tempo todo você.
Tenho uns sonhos infrutíferos, cujas sementes nem plantei.
Adiantei apenas as folhas, pra sombrear tuas maçãs,
Enquanto me deliciava com o gosto de terra.
Coisas simples que me facilitas. Seguir sorrateiro com o amor, ou sua diminuição.
Devolvendo o prejuízo que me dá tirar de mim o coração.
Doar-lhe tudo. Do ar, doar-se em nada.
Apenas a matéria compensada do meu ser completo
Com tudo.



Kate Polladsky

Friday, September 05, 2008

Fotografia

Não conhece o fato, e se desconfia... Fato.
Não recorre ao ato, e se distancia. Fato
Não amortece a vida, e se de morte vivia... Fato.
Não ofuscava a vista, e se ainda via... Fato.
Não faltava nada, de fato. Só revelar a fotografia.

Kate Polladsky
Trejeitos

De que jeito vai?
De que jeito é?
De que jeito gosta?
De que jeito quer?
De jeito maneira pode.
Mas dá-se um jeito, né?



Kate Polladsky
KP
I must be part of the parted
Disturbed, departed
Deported back home
Devided.
Do not wish that to anyone
I must be a plan of the practical
Pratically hysterical
In this silent me.



KP

Thursday, September 04, 2008

Queria mesmo era o abraço

E preencher-se de si

Com um pouco de outro eu

Como se fosse energia

Como se transferisse sem ferir

E ultrapassasse qualquer entendimento

Queria mesmo era o momento

E queria o mesmo momento para qualquer ser

Como se fosse um sentimento

Mas sem ser

Como se estivesse claro

Mas se confundisse

E isso a irritasse

Ainda bem

Que quer seja o que achasse

Beberia do conteúdo

E fecharia o frasco

Não a tocariam de outro jeito

Só queria mesmo

O abraço...

Kate Polladsky

Wednesday, September 03, 2008

Diz respeito a você
Do seu respeito por mim
Dos meios e dos fins
Que usa pra me desconcertar
E me desconcentrar no tempo
Descanse bem
E quando acordar
Não me desmoralize
Deslize-me entre as frestas
Aonde passo
E onde posso ficar
Fica difícil dizer
Mas não digo, se agora isso
Diz respeito a você.

KP

Tuesday, September 02, 2008

Tenho muitas idéias pra comer.
Mas é você que digere todas elas.
Confundi a minha fome com a sua fome
Até que conheci a sua dieta




KP

I

Não espere nada de mim.
Se eu demorar a te amar, você espera?
Disse que está esperando.
O que esperar era?

II

É como se eu tivesse chegado
Um sentimento se achega e se acha
Me faz pensar, acho que cheguei.
Mas entre um dia e outro
Já estou de saída pra outro lugar,
A minha casa eu já achei
Meu lar achei que tivesse achado
É como se eu estivesse fora
E como se eu tivesse chegado

Kate Polladsky

Sei que vou morrer cedo
Talvez não dentro do mundo, mas dentro de você.
Sabia disso?
Sei que não vou agonizar. Vou organizar-me no canto de trás
Vou cantar para que durma em paz
Vai mesmo é adormecer de mim.
Sei que vou voltar em susto, em surto, em sonho.
Mas meu rapaz, não volto atrás.
Melhor é a morte de dentro...

Onde duro mais.



KP
Capilares

O que me prende a ti são os olhos, olhares, e fechaduras.
Nunca as mãos, que me agarram a força e me afiam as garras.
O que me liberta de ti são suas formas e maneiras sem moldes
Sem cortes, nem acabamentos. Sem que se acabem, ou caiam bem.
O que me debruça sobre o corpo são os mais de um coração que não batem por mim
Que somente sentem, sentem-se só e me procuram.
Sentam no banco dos réus, mas julga-me decentemente o amor, faz favor.
O que me confessa as culpas são mil bocas que não conheço, mas já as beijei antes.
Bem antes que falassem besteiras. Deveria ensurdecer-me da vontade de ouvir
E fazer apenas o que me cabe, é aonde me cabem os lábios; sabe.
Facilmente me guisam a carne e o impacto carnal quase me leva.
Assim de leve, e depois em fúria branda.
É tudo que me prende a ti. Fugir às regras e ao tempo insólito.
Não tenho solitude, tenho um despeito sólido
Porque não sou a preferida, sou a proferida palavra no vento
Quem se passa por brisa. Perceba-me como ventania
De passagem por seus cabelos, aonde finco minhas raízes
E viro capilar no teu peito
Me prendo a ti.





Kate Polladsky

Monday, September 01, 2008

Escolhi ficar e continuar a sua ida.
Se você soubesse como adoro despedidas...
Daria tudo por um adeus pálido
Um adeus gélido
A um deus cálido
Que não te deixasse fugir assim...
Que te derrubasse do céu
E pecasse um amor por mim.


Kate Polladsky
Passas

Não sei se quero que me toque
Que me troque por outras
Não sei se minha sinfonia soa de acordo
Se eu vento num sopro
E se você se arrepia
Não sei de tantas coisas, quem diria
Diria que você tem mesmo muita sorte em me ter
Sem que me proteja desse você
Que me arranha e me acanha
Me representa as faces e facas nas entranhas
Medo de te perder. Só isso
E só risco o fósforo, para me aquecer no esquecimento
Sem sacrifício.
Meu amanhã nunca nasce de parto normal
Tua avenida nunca cruza a minha rua principal
Mas isso não desfaz a nossa natureza de caminhos
Que parecem indiferentes, diferentes ninhos
Onde vou pousar
A minha mão, a minha calma
Repousar e recompor a alma
Você sabe mesmo ser o estilhaço
Que me fere e ao mesmo tempo me segura o sangue
Não sei se quero esse toque de morte
Na nossa ida
Você sabe ser forte quando sou eu a ferida?
Vai me entregar de bandeja sem que me derrube as taças?
Vai me deixar de canto, num ensaio de traças?
Ou vai me traçar em ser que sou, meu e teu
Destroçar o ser que fui antes que chegasse
Arrombando-me portas, janelas, vidraças
Dessa vida aqui, não sei
Tu ficas, ou passas?




Kate Polladsky
E talvez por isso, você tenha melhorado a sua fé.
Tenha feito novos amigos, em velhos amigos.
Tenha refeito as pazes consigo.
E talvez por isso cessaram-se as perguntas e os questionamentos
A tranqüilidade de viver sem precisar de porquês
Talvez você não tenha ganhado tanto com isso, quanto poderia perder sem.
Mas quem te suportaria melhor do que você, hein?


Kate Polladsky
Não contém glúten

E comeu o chocolate como se visse biscoito
Quiçá o é.
Quis beber todo o chocolate
O cacau foi buscar no pé.
Quis ter sede da água
De uma quase sede eu.
E quase soube, quase coube.
O entender nos cubos.
Enquadra-se bem?
E olhou com curiosidade como se enxergasse
Se buscasse acharia. Se fosse atrás, teria.
Riu, como se achasse graça.
Como se não fosse.
Apontou como se indicasse
Como se dissesse, eu tenho razão.
E adoçou o dia alheio, como quem não parte.
Como se contivesse... E comeu o chocolate.


Kate Polladsky




[... Para o chocolate dos dias de caos].