Thursday, March 02, 2006

ESTAMOS ENTENDIDOS, (...) OU NÃO.

Não pode haver no mundo alguém mais eu-mesma que aqueles que me escrevem em suas palavras, de diversas maneiras únicas, o que eu não consigo escrever, porque não entendo ou simplesmente não entendo como poderia escrever para que eu seja entendida.

Talvez por isso eu pouco deva falar. Quando falo me assusto. Não era exatamente o que eu estava pensando em dizer.

Digo, faz sentido, mas acaba de desmanchar todos os planos que eu tinha em mente pra falar. Algo novo se formou e destruiu, e destruiu-se? Isso é horrível. No fim eu não consegui nada do que queria, mas pelo menos falei ,certo?

Então, eu digo, com mil palavras, com sentidos que fazem sentido mas que depois se desmancham, ficam mal ditas, mal interpretadas, esse é um medo.
Depois nada posso fazer para voltar atrás e desdizer o que eu disse, só porque pensei numa ordem diferente algum instante depois.

Eu não sei, mas então é como ordem de fórmula matemática, e bastante trabalhosa.
O que eu quero dizer é uma variável isolada, a estrela e razão de tudo que quero que entendam.
O que digo são as outras variáveis que não consigo ordenar de forma alguma, cordenando o pensamento e as palavras. Algo se atropela. Tudo se anula, e eu me arrependo.
Bate no juízo algo do tipo " não era bem isso o que eu estava pensando, porque raios falei aquilo?!"

Como se chama esse sentimento confuso (se é que é um sentimento), de estar tão claro, decidido num instante, pronto pra explodir-se em entendimento; e só pra intrigar, algo falha entre as palavras, as idéias mudam num instante, mais rápido que um instante, e já não é o que pensei ter dito o que foi literalmente falado?

Uma ilusão de entendimento que eu simplesmente... não entendo.

Oh, acabo de buscar apoio. Veja o que Clarice Lispector escreveu para que eu me entenda em coletivo:

" Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: pelo menos entender que não entendo."

Como se alguém me explicasse sobre eu mesma as coisas que procuro entender e não consigo. Inquietante, eu agora tento explicar tudo isso e provavelmente daqui a um instante qualquer, vou querer voltar e desfazer alguma coisa dita, porque o que eu pensei já não faz mais parte do entendimento que eu queria provocar.
Assim, peço de joelhos a mim mesma, entenda-me e explique isso de alguma forma. Mas não é um caso de sucesso. Depois de tudo isso, entender os outros é piada, quase um jogo de uma regra só, de complexidade única e solucionável.

Entender o que eu disse é com certeza sequer ter chegado este fim aqui e agora escrito. Diabos, o que a cabo de dizer faz-me sentido, mas não entendo.
Talvez seja isto! A distância entre " o fazer sentido" e o " entender". Eu vivo esta distinção, acho. Por isso devo ter particularmente essa ilógica lógica de pensar e escrever o que utopicamente ,e num instante brusco, me faz sentido e que talvez eu pense entender.

Sinto um alívio agonizante por ter esclarecido tanto sobre o que eu não entendo.
Acho que sou um gênio ilógico da minha própria vã filosofia sem sentido e entendimento algum. Mas sim, falei o que queria ter falado e que posteriormente deva, inclusive, me arrepender por ter esquecido de incluir algo mais, por ter atropelado outras, por ter resultado algum tanta falta de entendimento que apenas perdurou em algo do tipo " fez sentido enquanto eu pensei" mas depois não foi o que eu queria ter dito.

Ótimo estamos entendidos. (...) ou não.





Kate Polladsky

No comments: