Monday, March 06, 2006

Eu me colocaria aos pés e beijaria as mãos de certas pessoas, não como forma de submissão, jamais; mas como forma de agradecimento imensurável, por qualquer coisa que me complete.

Umpf... Eu não sei porque criaturas como Fernando Pessoa, Clarice Lispector e Pablo Neruda se deram ao trabalho de escreverem algumas biografias minhas, mas eu não sei por onde começar a agradecer. Tenho o maior prazer em me perder e me encontrar nas palavras deles, tenho o prazer de me sentir solitária e não tão bem e/ou compreensível ao lado deles, de escrever a dor e as faltas de lógica que no fundo, fazem todo o sentido possível. Sim, todo este parágrafo pode servir como um link subjetivo a quem queira ler qualquer coisa deles, ainda que não goste, mas para lembrar de mim. * não foi minha intenção ser narcisa ou esquecida, nesta frase*.

Eu quero, porque não tenho motivos complexos para querer; e vou postar parte do que considero pedaços da minha biografia contidos na minha bíblia literária (yes, i really mean it) :
" O livro do desassossego", by Pessoa.
Não porque seu conteúdo seja a trascrição do meu dia hoje, mas o meu hoje é sempre, e isso inclui todos eles, começando por um ontem qualquer.
Não sei com que olhos analisar isso, e pode ser que tradicionalmente eu me arrependa, não sendo exatamente o que eu quis dizer, ( "dèja vu do entendimento", correspondente ao meu 1° post), mas mesmo assim...

Continuando... Pode ser que tradicionalmente eu me arrependa, mas posso dizer, sob forma de auto-atrevimento, que meu tédio, meu eu cético e pessimista de alguns dias, ou seja: às vezes, ou talvez ocultamente sempre, movem minha criatividade, pensamentos, filosofia própria e mundana e o que talvez os outros devam chamar de auto-flagelamento, ou simplesmente idiotice, falta do que fazer, mente vazia... Que seja, " i don´t care if you don´t care".

Finalmente! Eis o bendito pedaço do texto de Pessoa, que eu vou ter a satisfação de lê-lo sempre que abrir a página principal.

" Acordei hoje muito cedo, num repente embrulhado, e ergui-me logo da cama, sob o estrangulamento de um tédio imcompreensível. Nenhum sonho o havia causado; nenhuma realidade o poderia ter feito. Era um tédio absoluto e completo, mas fundado em qualquer coisa. No fundo obscuro da minha alma, invisíveis, forças desconhecidas travavam uma batalha em que meu ser era o solo, e todo eu tremia do embate incógnito. Uma náusea física da vida inteira nasaceu com o meu despertar. Um horror a ter que viver ergueu-se comigo da cama. Tudo me pareceu oco e tive a impressão fria de que não há solução para problema algum.
Uma inquietação enorme fazia-me estremecer os gestos mínimos. Tive receio de endoidecer, não de loucura, mas de ali mesmo. O meu corpo era um grito latente. O meu coração batia como se falasse. "

Agora volto a escrever. De certo perfeição é algo bastante subjetivo. Pessoalmente, esse texto está num grau de perfeição que me acanha e faço questão de apenas vivê-lo. Sua descrição lógica e sensível daquele estado de espírito, que também é meu, assusta pela precisão com que me faz re-ler palavra por palavra como quem acaba de encontrar um apoio, uma companhia que parece dizer: " Você não sabe explicar ou entender a si mesma, mas eu te entendo, sei como é perfeitamente". Então eu quero acreditar que compartilhar a mesma dor (vamos chamar assim) é o caminho para um alívio mais fácil, mas admito, não é a cura.

Isso era tudo, de imediato. Mas sempre será o mesmo tudo, para os dias que venham sob um espectro de tédio e desânimo.


* Esvaio-me*
Kate Polladsky

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