Tuesday, August 05, 2008


EM FRENTE À TELA DE COLORBAR

Sento-me no sofá clássico
E bebo o café quente
Recosto-me na parede fria
Deixo-me levar pela ventania
Pelas ruas da cidade
Fujo
Eu que finjo francamente
Toda a sinceridade
Do meu coração sujo
Agora é cedo o suficiente
Para que se torne tarde
Da varanda me despenco
Num repente
E flutuo como roupas no varal
Sangro para embebedar-te
Uma forma de entreter-te
Eu, o néctar de um vinhedo
A transbordar no teu graal
Penduro-me entre os galhos
Que nunca crescem, que nunca pesam
Que nunca descem e não padecem
Com seus frutos
Meus passos falhos, minhas tralhas
Deixadas como trilha, para mais um que temo.
Volto só, subindo os andares
Para o lar, limpo de minhas dores
Adormeço com fome, com música
Como de costume
Largada na sala-de-estar
E sonho leve
Matando a sede
Do meu inconsciente
Em frente à tela de colorbar



Kate Polladsky

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