Friday, November 28, 2008
Dá me espaço pra dançar entre o teu amor e o meu.
Deixa-me livre para ir e vir ao teu corpo
Abraça-me por trás, quando eu não conseguir te encarar de frente.
E me beija para sempre, quando eu ameaçar fugir.
Deforme as condições, ignore as confusões, desfaça-se dos por quês.
Prenda-me mesmo, é mais fácil do que me entender.
Kate Polladsky
Thursday, November 27, 2008
Tocaria o meu alimento e me mataria por envenenamento.
Sufocaria a rubra forma do meu corpo com teu abraço.
E sobraria apenas a minha alma.
Saudável e fresca. Livre do toque.
Virgem e virtuosa.
Infeliz por faltar-lhe veias.
Kate Polladsky
BANQUETETe como com os
olhosFruta que se
pendura no
meu narizTe beijo como
esquimóBebo o suco e
mordo a
carneQue esconde a
sementeFeito
fruta-do-condeEntão toco a
peleQue se suja de
terra
quando caiBem aqui aos meus
pésTe piso como a
uvaE escorre teu
líquidoMais tarde, te
ponho a
mesaComo o melhor
vinhoBrindo e me
embebedoCaio anestesiada,
em
êxtaseDescanso do teu
banqueteMas não recolho
dos meus
olhos os talheresPara não deixar de
te
comer.
KP
Wednesday, November 26, 2008
Escrevo teu nome em qualquer pedaço de papel rasgado.
Minha caligrafia se cansa de você.
Mas meus dedos dançam em volta de cada letra que se forma, até a última quando morre.
E embora quando termine pareça estar no plural, não há coisa mais única.
Por mais comum que seja.Eu estou tentando te esquecer.
Dei-lhe apelidos pra me desapegar do verdadeiro.
Mas a verdade é ainda mais ridícula.
Não posso dar nome ao que sinto, que não o teu próprio nome.
Kate Polladsky
Tuesday, November 25, 2008
Monday, November 24, 2008
Por tão pouco.
Portanto, foi demais.
Não tratou começo como começo
Seria errôneo não tratar fim como fim
Ou padecer no tanto faz.
Tem gente que vive disso
Eu não quero viver mais.
Fazer feliz é muito simples.
É só deixar ir.
Vai...
Kate Polladsky
Sunday, November 23, 2008
Thursday, November 13, 2008
Tuesday, November 11, 2008
Torceu-se por dentro e pairou
Como folha de papel em branco
Seda e sobretudo sede
Fitou como se tocasse
Aquele ser era também um estar
Naquele instante acha que estava sendo sincera
Com ninguém mais do que si mesma
E naquele momento, como se nada mais importasse
Deixou-se olhar.
KP
Monday, November 10, 2008
Dei minhas lembranças a um pedaço de mar. Vi flutuar minhas sagas ao teu lado e por fim, vi meu sangue quente, de um músculo errante e pulsante, afundar. Joguei meu corpo nas ondas, como quem quer se lavar por dentro e como quem levava por dentro um oceano de águas passadas aonde eu quase me deixei levar. Me perguntei em silêncio se aquilo tudo me pertencia ou se era tudo aquilo que perdi. Ainda carregava uma dor densa, quem sabe o mesmo mar te banhava em outro lugar. Era mesmo o peso do que eu sentia que me impedia de nadar. E fugir depressa do que eu era. Quase a tua costa, uma linha tênue de rochedo que te segurava firme, e te impedia de transbordar. Para que não se gastasse afora, nem se enchesse demais, de um mundo de outrora, cuja aurora se desfaz. Minhas lembranças foram todas inteiras. Hoje se despedem em pedaços, pontos e traços que sequer sabem que pedaço do mar riscar.
Not a bird, not a space to fill in, not a time to waste.
I’m free from my past. Then again, it feels like a new taste.
No, I haven’t got new arms to laze on.
No I haven’t got different lips to run for.
I just got my heart back. And it’s all I needed.
I just got my sanity back. And it’s all I missed.
I’m thrown back into the darkness.
And yes, it scares me. I’m lost and lonesome.
But I’m mine. And my spirit is lighter.
I don’t feel like a loser. Nor like a fighter.
It is none of my business anymore
To measure my love or pick you up in the storm
It’s even senseless to think about before
As something so kind, so big, so true.
Now I’m free to ignore and make things work out.
Looking forward to see a new horizon.
To light my way with a brighter sun
And now that I’m free, darling
I got half way gone.
KP
Friday, November 07, 2008
Thursday, November 06, 2008
Dizia que os dias de chuva eram quentes, tão forte se enrolava nos lençóis, formando um ninho de si e de seus medos. Jamais quis estar na chuva para se molhar. Criou-se seca e intocável. Certo dia viu passar na rua uma criatura de olhar tão brilhante, que nele reconheceu uma constelação, e daí por diante carregava dentro de si um planeta, cuja órbita ela não sabia quando veria novamente passar, mas sentia que a deixava tonta, só de pensar.
Dizem que quando ela ama, surta. Finge-se de cega, de perdida, não dá ouvidos a mais ninguém, que não o amor que a escurece, que toma sua bússola e rouba sua música mundana. Já nem dança, seus pés sequer obedecem, apenas corre para os mesmos braços, não anda. Quando um amor desses chega ao fim, a vida a desengana. Seu coração padece, o que há de mais doce nas frutas proibidas torna-se amargo e os pães sobre a mesa apodrecem. Não se alimenta de coisa alguma, e logo flutua de sobre-morte. Pessoas juntam votos para que sobreviva e então ela acorda, alimenta-se de si e aos poucos sente de novo o peso do mundo que a adormeceu. Tão bom é dormir. Sonhar acordada nem é. Isso a deixa tão leve, que nada a prende. Perde seu equilíbrio com a altura dos sonhos, e cai como se fosse o próprio muro que a divide. Ela tornou-se construção, mas retornou ao estado de pedras. Alguém a pega e arremessa no lago, vê-la pular e afundar seu corpinho de matéria perene sob os lençóis freáticos, molhados dos dias de chuva. Seu ninho a nasce, breve como um cochilo. E tudo o que há, ganha importância em seu mundo. Assim dizem. - KP.
Wednesday, November 05, 2008
Tuesday, November 04, 2008
Jurava pra si mesma que o amor que tinha, não era mistério nem era vestígio. Não dava sinais do quê o formava, mas transformava-se com malícia em presságio. Era assombroso. A sombra que dava, a luz que absorvia, já quase um ser vivo o amor se enraizava.
Mas aos poucos, o amor foi tornando-se palavras. Proferidas em vão, para feridas rasas. Ia se aprofundando e em algum momento, não mais lhe parecia dádiva. Corações ao avesso, e cada página perdia seu verso. O amor ficou pálido e sem grafia. Virou sopro. Pássaro sem asa. Caminhava somente à margem e nem mais sonhava. Fossilizava-se na lágrima. Deu de ombros, nada mais o sustentava. Um êxtase do fim.
Quando se lembra do amor, esquiva-se no tempo. Sente enjôo da dor que lhe traz, tantas lembranças ainda recentes, ganhando a cor sépia. Era chama, agora é fuligem. Ela se desfaz do amor que jaz. Do corte que vive a enxaguar, para que estanque, que pare de jorrar a seiva. E a limpe, para outras crenças. Que não o amor.
Acredita talvez, apenas na sua vertigem. O amor de passagem. Uma neblina. De certo trará outra visão, quando passar. Ela até diria que amor é uma miragem.
[Acaso]
Levanta a pálpebra. O que acreditara sofre com a maresia. É água-viva. Seu impulso flutuante. E volta ao amor, ainda que discretamente. Talvez ainda desacredite e pense diferente. Mas olhem-na: ela ama novamente.
Quer pense diferente sobre o amor, quer sinta diferente o mesmo sabor. Desconfia que dois a dois juntos não formam um só. Mas um cardume. Multiplica-se no interior sem medo ou arrependimento. Amor fácil e leve, não se perde e nem termina, já nasce escasso. Da raridade que é, transitar entre “quando era” e “quando for”. O amor acreditava nela, quando era. E ela, acreditará no amor enquanto for.
Monday, November 03, 2008
A sua voz intimida. É imposta, é suposta. Tão curiosa de sonoridade que quase é pergunta. E é o próprio complemento, uma resposta. Quer ser sábia num tom leigo, simples. Sarcasticamente castiga, engana e mede. Como se fossem seus próprios olhos encara. E assim sua voz prepara seu berço pra o que quer ouvir. Já ganha mimo, ou um ninar debochado, gosta de adormecer assim.
Seu olhar é antipático, hierárquico, atípico. Adapta-se ao que vê, embora não goste. Quando assim, coloca o que for de canto; como se já não servisse. E a vista limpasse. Poderia escolher estar ou não estar presente. Mas seu olhar não foge, porque não é covarde. Nem fica porque é inquieto. Simbolicamente é um olhar acolhedor, colhido da castanheira. Ele é assim meio doce-mel, meio mundo e meio madeira. Por vezes, o noto meio radar. Nunca presenciei meio perdido o seu olhar. Nem mesmo ao meio, dividido entre uma coisa e outra. Decidido demais, não a deixa olhar pra trás. Fecha seu panorama em ângulo agudo. Invejo a paisagem que no seu olhar pousa.
O seu gesto é acanhado. É cabível e é cabide. Pendura-se no ombro daquele com quem compartilha a mesma linhagem de passos, ou naquele com quem perdurou um instante.
É um gesto miniatura. De identidade formada, decidido das superfícies. Gesto de meticulosidade, de firmeza bruta. Gesto escorregadio, desorientado ou plácido. Dependente do gestor, do maestro que o toque, que o leve, que o guarde por merecimento. O seu gesto é eterno, exatamente naquele momento. Doura o que toca com a pele.
Os seus traços, todos eles significam. Todos eles permanecem e são notados. Traços vivos, que não existem apenas para si, por estarem ali como seus pertences básicos. São traços artísticos, desenhados a partir do seu eu imperfeito. Traços seus que esboçam algo a mais, até menos do que gostaria. Alguns ficam descontinuados e descrentes, mesmo assim são eles que crescem acompanhando suas beiradas e bordam o tecido que veste sua pessoa. Isso de unificar os todos seus, teve de nascer todo de uma vez só. Das coisas que não se encontram de outra maneira em outro alguém. Porque cada coisa sua, é única. E o seu tudo, também.
Amor é um objeto.. Que o meu espírito infantil o agarre como algo sem valor, sem cor, sem som e o arremesse no chão. O que fazer com cacos de amor? A dor os juntaria, tentaria de todas as formas torná-lo inteiro e divisível. Mas não compartilhável. Seguiria como objeto cortante, inutilizado. Com pontas e irregularidades.
Não entendo de amor, nem de falas. Entendo de bocas e palavras ao vento. De calúnia, de calos, mas de amor... Eu me rendo. Saberia falar mais do mar e de tormentas.
Uma vez acho que amei. Mas não amei a vez que amei, porque não fui amor. Não fui amado. Não fui. Voltei desamparado e vazio. A minha exigência com o simples tornou tudo muito complicado, e amor não é fácil de lidar. Por isso me ignorou, sei que esse é um dos por quês. O que não se justifica.
Caberia o nada no amor? Quando se sente nada, é um ato amável consigo mesmo? Protegido de ilusão. Blinda o coração. Mas e se ele envelhece, torna-se célula morta, antes de tornar-se céu para alguém. Não importa.
Se o amor falasse, o que me diria? Que de todas as vezes que amei, deu tudo certo. Mas no fim, estaria uma errata e meu nome nela. Agradeço. Pois se o amor falasse, tenho certeza que me seria sincero, e não criaria um mal entendido. Eu não o entenderia, me pareceria mudo. Então melhor que assim o seja. Mudo. Não há mais nada a ser falar de amor.
Sunday, November 02, 2008
Furem-na, partam-na ao meio, depois a joguem no fundo do seu mundo indigesto.
Disse a todos os elfos, que não acredita em fantasia. Mas tem o costume de mulher-maravilha, que não se salva dos heróis por quem se apaixona, e jamais termina seus capítulos. Ignora-os, perduram e tornam-se perfeitos, tantas vezes se repetem.
Não sabe o que respira, liberta do que a inspira, tem apenas alternativas excludentes. Sorri para todas as mentes brilhantes, seu brilho fosco pintou o acabamento que tem. Quando se acabou e a tinta fresca secou, sentiu na pele brisa nenhuma. E agora, isolada de tudo, pede apenas o descanso. E o descaso por acaso é consigo? Veio agora pedir que a perdoe, por ter o cabimento de não caber no que sente. Disse "sinto muito" e foi morrer. Agora vive em paz. Vai entender. Do que mulher é capaz.
Kate Polladsky
Saturday, November 01, 2008
Perto, longe, perto, longe.
Só, mas com você do meu lado de dentro.
Minha pele tem pressa, minha vontade não cessa.
Não toca o tempo lento. Nem joga de novo os dados.
O primeiro se chama sorte, o segundo se chama amor.
Nem acredite tanto em acaso.
Mas se caso contrário... Aqui estou.
Algumas palavras chaves sobre você.
Teu significado sem sentido sentiu-se livre
Por um acaso me decifrou.
Roubei-o em forma de empréstimo.
Sentiu-se roubada e me visitou
Nunca mais foi embora de mim
Solidão me perdoou.
Roubar suas palavras-chaves
Me abriu seu coração
E somos nós o nosso achado
Daqui por diante
Perto, longe, perto, longe
Só com você do meu lado.
KP