Monday, November 10, 2008




Dei minhas lembranças a um pedaço de mar. Vi flutuar minhas sagas ao teu lado e por fim, vi meu sangue quente, de um músculo errante e pulsante, afundar. Joguei meu corpo nas ondas, como quem quer se lavar por dentro e como quem levava por dentro um oceano de águas passadas aonde eu quase me deixei levar. Me perguntei em silêncio se aquilo tudo me pertencia ou se era tudo aquilo que perdi. Ainda carregava uma dor densa, quem sabe o mesmo mar te banhava em outro lugar. Era mesmo o peso do que eu sentia que me impedia de nadar. E fugir depressa do que eu era. Quase a tua costa, uma linha tênue de rochedo que te segurava firme, e te impedia de transbordar. Para que não se gastasse afora, nem se enchesse demais, de um mundo de outrora, cuja aurora se desfaz. Minhas lembranças foram todas inteiras. Hoje se despedem em pedaços, pontos e traços que sequer sabem que pedaço do mar riscar.


KP

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