Sunday, November 02, 2008

Veio agora morrer. Joga-se no sofá e o tempo a come, no mesmo prato sujo de ontem. A mistura dos grãos e as quebras rotineiras das beiras que a constrói. Que louça é essa? É mulher? Que brevidade do fim, deixar-se sucumbir nas mãos do talher.
Furem-na, partam-na ao meio, depois a joguem no fundo do seu mundo indigesto.
Disse a todos os elfos, que não acredita em fantasia. Mas tem o costume de mulher-maravilha, que não se salva dos heróis por quem se apaixona, e jamais termina seus capítulos. Ignora-os, perduram e tornam-se perfeitos, tantas vezes se repetem.
Não sabe o que respira, liberta do que a inspira, tem apenas alternativas excludentes. Sorri para todas as mentes brilhantes, seu brilho fosco pintou o acabamento que tem. Quando se acabou e a tinta fresca secou, sentiu na pele brisa nenhuma. E agora, isolada de tudo, pede apenas o descanso. E o descaso por acaso é consigo? Veio agora pedir que a perdoe, por ter o cabimento de não caber no que sente. Disse "sinto muito" e foi morrer. Agora vive em paz. Vai entender. Do que mulher é capaz.




Kate Polladsky

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