Saturday, September 06, 2008

Contudo

Tenho a impressão que me sopras o vento que me faz ventania.
E que me atordoa a poeira nos olhos, me substitui a vista.
Tenho a ferida de quem venceu um dragão, sem espada, nem escudo.
Sem tudo de todo sentimento esdrúxulo, apenas a esquisitice de ser.
Contudo...
Tenho a intensidade da intenção, e a meninice da invenção, que acabou de nascer.
O que me apressa, me apessoa dos freios, cada vez mais insanos. Cada vez mais gastos.
Cada vez mais gestos, e menos palavras na sua presença.
Uma observação desorientada, de tocaia. Pairo meus cílios na tua longitude.
Se é virtude, não sei. Volta e meia morro na praia. Tentando adoçar o teu mar.
E sinto o gosto insosso da minha maré, o tempero que é o tempo todo você.
Tenho uns sonhos infrutíferos, cujas sementes nem plantei.
Adiantei apenas as folhas, pra sombrear tuas maçãs,
Enquanto me deliciava com o gosto de terra.
Coisas simples que me facilitas. Seguir sorrateiro com o amor, ou sua diminuição.
Devolvendo o prejuízo que me dá tirar de mim o coração.
Doar-lhe tudo. Do ar, doar-se em nada.
Apenas a matéria compensada do meu ser completo
Com tudo.



Kate Polladsky

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