Tuesday, September 02, 2008

Capilares

O que me prende a ti são os olhos, olhares, e fechaduras.
Nunca as mãos, que me agarram a força e me afiam as garras.
O que me liberta de ti são suas formas e maneiras sem moldes
Sem cortes, nem acabamentos. Sem que se acabem, ou caiam bem.
O que me debruça sobre o corpo são os mais de um coração que não batem por mim
Que somente sentem, sentem-se só e me procuram.
Sentam no banco dos réus, mas julga-me decentemente o amor, faz favor.
O que me confessa as culpas são mil bocas que não conheço, mas já as beijei antes.
Bem antes que falassem besteiras. Deveria ensurdecer-me da vontade de ouvir
E fazer apenas o que me cabe, é aonde me cabem os lábios; sabe.
Facilmente me guisam a carne e o impacto carnal quase me leva.
Assim de leve, e depois em fúria branda.
É tudo que me prende a ti. Fugir às regras e ao tempo insólito.
Não tenho solitude, tenho um despeito sólido
Porque não sou a preferida, sou a proferida palavra no vento
Quem se passa por brisa. Perceba-me como ventania
De passagem por seus cabelos, aonde finco minhas raízes
E viro capilar no teu peito
Me prendo a ti.





Kate Polladsky

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